Luiz Motta
CEO da Excelsior Alimentos
O mundo corporativo vive uma contradição que desafia CEOs e gestores de todos os setores: nunca tivemos tanta tecnologia disponível, mas também nunca foi tão difícil engajar, desenvolver e reter pessoas. A escassez de talentos deixou de ser uma previsão e se tornou um gargalo diário. Segundo o relatório Global Talent Shortage 2025, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de falta de profissionais qualificados. Paralelamente, de acordo com o relatório State Of The Global Workplace da Gallup, 77% da força de trabalho global está desengajada, gerando perdas trilionárias. É um cenário que revela um problema estrutural, não só de mão de obra, mas, sim, de liderança.
A expansão de setores e o aquecimento da economia, em momento de baixo índice de desemprego, encorajam trabalhadores a buscarem ambientes mais saudáveis, oportunidades de crescimento real e líderes que saibam orientar, reconhecer e apoiar; e as empresas alegam dificuldade em encontrar e manter talentos. Dados do IBGE apontam mais de 6,5 milhões de demissões voluntárias ocorridas no Brasil em 2024. O que antes era uma vantagem competitiva tornou-se uma exigência básica.
O desafio tende a se agravar. O bônus demográfico esgotou. O país envelhece rapidamente e não contará mais com o crescimento orgânico da força de trabalho. Soma-se a isso um déficit de habilidades: 63 milhões de trabalhadores formais e 39 milhões informais (IBGE, 2025) convivem com lacunas educacionais, sejam elas de Educação Básica, de Ensino Superior ou de mercado. Apenas 23% dos brasileiros afirmam receber treinamento de seus empregadores. Enquanto isso, a transição tecnológica avança e faz com que cerca de 59% dos profissionais precisem se requalificar até 2030, conforme estimativa do Fórum Econômico Mundial. Em outras palavras, o futuro exigirá pessoas mais qualificadas para maior produtividade com equipes menores.
Frente a esse cenário, insistir nos modelos tradicionais de comando e controle é receita para o fracasso. A nova liderança não é a que acumula horas de reunião, vigia processos ou concentra decisões. É a liderança que engaja, desenvolve, direciona e reconhece. Os dados são contundentes: funcionários que recebem reconhecimento frequente têm 45% menos chance de pedir demissão. Ambientes que priorizam aprendizado, saúde mental e apoio à carreira reduzem absenteísmo, acidentes e taxas de turnover, apresentando maior produtividade e fidelização.
O papel do líder, portanto, é mais estratégico do que nunca. Ele deve ser o elo entre expectativas claras, segurança psicológica e desenvolvimento contínuo. É o líder quem traduz a estratégia em metas compreensíveis, treina o time, identifica potencial, define limites justos e, sobretudo, cria um ambiente em que as pessoas se sintam vistas e valorizadas. Empresas que esperam prosperar num mercado marcado por escassez precisam formar líderes antes de formar equipes.
A tecnologia, por si só, não garantirá competitividade. A Inteligência Artificial hoje já aumenta a produtividade, e aumentará ainda mais, mas dependerá de profissionais capazes de operá-la e interpretá-la para boas tomadas de decisões. E profissionais qualificados só permanecem onde se sentem pertencentes. No fim, organizações são máquinas de talento, e o talento é sempre humano.
A agenda da liderança deixou de ser um tema comportamental para se tornar um imperativo econômico. As empresas que compreenderem isso terão vantagem. As que não compreenderem serão vítimas da própria miopia. O futuro será das organizações que colocarem pessoas no centro, não como discurso, mas como estratégia. Porque, diante da escassez, não há bem mais valioso do que um profissional engajado. E não há tarefa mais urgente do que aprender a liderá-lo.